O transformismo é um termo empregue para se referir pelo geral a pessoas de sexo masculino que ocasionalmente adoptam os modismos culturais (maquilhagem, vestimenta, expressões, giros linguísticos) que convencionalmente são assinados ao sexo contrário. Isto pode ou não estar relacionado com a identidade sexual. Muitas culturas incluem esta prática como uma expressão artística, como é o caso do teatro kabuki japonês, ou os actores masculinos que representavam papéis femininos na ópera tradicional chinesa, assim como também se costumava fazer no antigo teatro de alguns países da Europa.
Se olharmos a questão somente sob este aspecto, compreendê-la-emos apenas como uma simples prática de indivíduos de um determinado sexo que se portam como se do outro sexo fossem, por meio de uma transformação ou, às vezes, uma indefinição, ou ainda, uma ambivalência dos géneros masculino e feminino. Se olharmos por este aspecto único, acabaremos por compreender erroneamente o fenómeno, dando margem a um entendimento estereotipado e reducionista.
Hoje trago ao vosso conhecimento o Bino e a sua ambivalência “Marlene”. O Bino mais não é que um concidadão da Rinchoa que por motivos vários, os quais não tenho direito de aqui expor, se viu “obrigado” a adoptar a “Marlene” como veículo de fuga a todas as contingências e entraves na vida, que não tem sido parca em lhe criar obstáculos, os quais, ele afortunadamente, tem vindo a ultrapassar e sempre com um sorriso na cara. Homem humilde, trabalhador e de bom trato, que apesar das suas muitas necessidades não se furta em ajudar quem dele necessita. Para além de uma pequena reforma que usufrui, compõe o seu pecúlio mensal com alguns “biscates”, não deixando de ser uma personagem dos sete ofícios.
A Marlene para além da sua transformação enquanto entidade sexual, também o é enquanto indivíduo da sociedade fazendo o Bino mais falador, mais exteriorizado e, porque não, mais aceite. Ao princípio creio que de um modo jocoso e de complacência, se é que ele alguma vez dela precisou, a Marlene foi sendo aceite. Hoje ao vermos a coragem, digo coragem porque não são todos os que assumem em sociedade as suas “taras” ou “fetiches”. Naturalmente que não poderei ser taxativo nessa apreciação, dado que, o Bino tal como é comum falar e também por ele mencionado, “não bate completamente bem”.
A Marlene para além dos sorrisos que nos faz ter aquando da sua presença e com as suas tiradas espirituosas, espantou-me, de uma forma muito positiva, enquanto artista popular ao interpretar alguns temas com letras de sua autoria e executando um órgão/piano electrónico.
Espontaneamente conseguiu juntar, primeiro como público céptico e jocoso e depois como apreciadores e aceitantes das suas potencialidades enquanto artista, uma dúzia de pessoas que não se furtaram em o aplaudir e acompanhar nas suas músicas cantando o refrão e seguindo o ritmo com palmas e braços levantados.
Não poderei deixar de referir que este mini espectáculo teve lugar n’O Cantinho, cujo proprietário, o Júlio, já desde há muito tem sido um benfeitor para o Bino permitindo-lhe ainda esta pequena extravagância.
Por razões óbvias, abstenho-me de aqui colocar fotografias do Bino, limitando-me a mostrar a Marlene.
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